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Finalista de programa musical da Globo, cantor potiguar trabalha como moto-entregador durante pandemia: 'Não pensei duas vezes'


João Batista do Fama teve eventos cancelados no início da pandemia e precisou mudar de trabalho para conseguir sustentar a família. João Batista Costa, conhecido como João Batista do FAMA, viou moto-entregador durante a pandemia da Covid-19 Cedida De cantor a moto-entregador. O potiguar João Batista Costa, de 37 anos, trabalhava com música desde os 14 anos, mas ficou conhecido nacionalmente como finalista no programa Fama, da TV Globo, em 2002. De volta a Natal, virou o João Batista do Fama, e sustentou a família fazendo shows e eventos até março do ano passado. Com a chegada da pandemia e o cancelamento de todos as apresentações agendadas, o músico se viu obrigado a buscar outra forma de sustento e conseguiu trabalho como moto-entregador. "Não pensei duas vezes", afirma. O último evento, João lembra bem. Um casamento no dia 15 de março de 2020. No dia 18, o governo do Rio Grande do Norte publicou o primeiro decreto estadual sobre medidas de prevenção à Covid-19. Entre elas, proibição de atividades coletivas, eventos de massa e shows. Somente na última quinzena daquele mês, o cantor se viu com sete eventos cancelados. Na banda, todos tinham outros trabalhos como forma de sustento. Ele, não. Mortes e casos de Covid nas cidades do RN Ocupação de Leitos de UTI em Natal João Batista foi finalista da primeira edição do programa FAMA em 2002 e ficou na quarta colocação, aos 18 anos de idade. A edição foi vencida por Vanessa Jackson. Acostumado com a imprevisibilidade do setor artístico, o cantor conta que mantinha uma reserva financeira, que foi suficiente para atender as necessidades da família por 8 meses ao longo de 2020. No entanto, sem perspectivas de volta aos palcos, aceitou o convite de um amigo para tentar um trabalho como moto-entregador em uma pizzaria, onde está desde dezembro de 2020. João Batista no programa FAMA, da TV Globo, em 2002. TV Globo "A situação começou a ficar insustentável e, como eu tinha comprado uma moto, um amigo me convidou, perguntou se eu queria trabalhar na mesma pizzaria que ele e eu fui fazer um teste lá. Fiquei e hoje presto serviço para três empresas. Trabalho 10 a 12 horas por dia, entre entregas e tempo de espera", conta o músico. O cantor ainda afirmou que não demorou a aceitar o convite, por querer garantir o sustento da família e conta que passou a admirar ainda mais os novos colegas moto-entregadores ao enfrentar diariamente as dificuldades da profissão. "Pela educação que meus pais que me deram, eu olhei a oportunidade, pensei que poderia ser por apenas um tempo e aceitei. Não por ser algo desmerecedor. É um trabalho extremamente digno e hoje sou fã da classe. Mas ao mesmo tempo é muito arriscado. Hoje tenho que sair de sol a sol, chovendo ou não. Você não pode ter coisas na cabeça, ficar pensando em problemas em cima da moto, porque pode se desconcentrar do trânsito e, em uma fração de segundos, cair", afirma. João Batista canta em eventos como casamentos, formaturas e festas particulares em Natal e teve que se reinventar durante a pandemia. Arquivo pessoal A esposa de João, Sara Costa, também é musicista e foi outra que se reinventou durante a pandemia. Ela trabalha atualmente como designer de unhas. O músico revelou que os rendimentos são menores que na época dos shows em eventos, mas se diz agradecido por eles poderem sustentar a família. "A gente teve que se se readaptar, mas graças a Deus tem dado para suprir as necessidades. A gente teve que abrir mão de algumas coisas, remanejar outras, mas tem dado certo. Nesse cenário, de tudo que tem acontecido, tenho amigos que estão passando uma situação bem difícil mesmo. Então só tenho que agradecer a Deus, porque todos os dias saio para trabalhar e não tem faltado nada. Ao mesmo tempo fico triste por esses amigos. Eu tinha uma moto, podia trabalhar como motoboy, mas tem outros que não", conta. João conta que, após ter publicado sobre sua nova realidade nas redes sociais, outros músicos também o procuraram para falar que também estão trabalhando com entregas. Ele conta que também realizou quatro lives musicais ao longo da pandemia - uma no carnaval de 2021, promovida pela Prefeitura de Natal - e deseja voltar logo aos palcos. "Tenho muita fé que isso vai passar. Já chegou uma esperança, que é a vacina", ressalta. Coronavírus Em novembro, João e a Sara tiveram coronavírus. O cantor afirmou que apresentou falta de ar e tosse na última semana de doença e a médica recomendou internação para ele. Apesar disso, ele não conseguiu vaga. "Fiquei fazendo tratamento de casa e a médica disse que se eu não melhorasse em três dias, buscariam internamento até no interior, se fosse necessário. Mas nesse período eu comecei a melhorar", contou. Pela própria experiência de ter passado pela doença e ter pedidos amigos para o vírus, o cantor se vê dividido entre o desejo da liberação dos eventos e a manutenção do distanciamento. "Eu acredito que as pessoas, não todas, mas existe uma parcela que não tem consciência. Eu enfrentei a Covid-19, tive problemas respiratórios, precisei ficar internado e não tinha vaga. Eu sei o quanto a doença é perigosa. Recentemente perdemos pessoas, estamos perdendo amigos. Diante disso, sei que a música não teria prioridade. Mas, ao mesmo tempo, é o ganha pão de muitas pessoas", conta. O cantor ainda considerou que durante a flexibilização, houve bons exemplos de eventos que seguiram as recomendações governamentais e defende que, se não é possível flexibilizar atualmente, haja apoio do poder público aos trabalhadores do setor cultural. "Toda a classe está sofrendo, não só os músicos, mas também os outros profissionais envolvidos, que estão no 'backstage'. Não tem como dizer que o trabalho não é essencial. O trabalho é essencial para a vida. Ai é que entram as políticas públicas, que os governos e prefeituras apresentem alguma ajuda à classe, com os recursos reservados para cultura", argumentou.

source https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2021/04/14/finalista-de-programa-musical-da-globo-cantor-potiguar-trabalha-como-moto-entregador-durante-pandemia-nao-pensei-duas-vezes.ghtml

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